sexta-feira, 3 de julho de 2009


Aprendi a respirar a Morte; certeza minha, em cada vez mais dias passados esta minha dor, esta que cresce insuportável, e de certo mais indescritível. Cada dia que nasce sempre mais caliginoso que ou outro passado, será falta de forças para manter as pálpebras em estado, serão trevas imanentes vincadas à alma bolorenta, é uma escadaria cronometrada, um passeio infernal até ao momento fatal. Das poucas vezes, certamente que serão poucas as vezes que realmente abro os olhos, e das poucas vezes também em que me deixo deambular pela minha busca do infinito, a hora da minha morte é sempre implacável – ferrar metálico das oito e cinquenta e cinco da manhã. Leito macabro ao rumo do meu suicídio ressuscitado, desorientar-me do meu infinito infectado por desejos de fugas cruentas, é ver-te e deveras mortal. Os extremos emotivos, esses que só remam no meu sangue mesmo que à deriva, trazem-me ressuscitada à vida apenas por um alento. A máxima de regozijo é certamente sobreposta (ou simplesmente clarificada) ao almejo da jocosa Morte sorrida. O escarlate que me trazes a pulsar de novo é um tumulto de um segundo caminhante; irrompido e colérico pelo apunhalar que me fazes sentimental, anestesiada e capaz de me organizar num triz, devolves-me à dor a que me afiz. Ver-te é voltar à vida, da certeza incerta de algo que nem sei se creio concreto, suspiro para descanso de algo que não sei descansar; os dias que se arrastam cada vez mais penosos pelo sangue que me foge dorido pelas entranhas aturdidas acrescem à minha dificuldade de respirar. Olhar-te perdida do meu fitar infinito, significa expirar a Morte que só me deixas nos meus tristes desejos; significa voltar à vida da causa desdita que cresce mais pregada à minha alma quebrada, assim acomodada ao ar que respiro venenoso; bafo apodrecido de alma fraquejada que eu morro todos os dias, apunhalado pela tua ilusão crespa. No fim, de uma forma muito trocista, a Morte devolve-me o coração condescendentemente, cada vez sempre mais desfalecido de dor, a minha dor que cresce insuportável, só para me ver a morrer no novo dia que surge mais atro que hoje.
"time ain't gonna cure you; time don't give a shit"

2 comentários:

  1. A rotina mata-nos, principalmente quando trazemos uma tristeza às costas, não é verdade? cada dia aborrecido e pior que o anterior, mas que temos a certeza que o seguinte ainda será pior. A rotina entristece-nos, mas apenas e exclusivamente quando vivemos "sem vida"...

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  2. Diz-me o que entendes-te do meu ultimo texto. Espero que o meu ultimo comentário tenha sido uma boa "pequena" interpretação (rir)

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