sábado, 28 de março de 2009


É dor, essa de deambular perdida (meia sorrida, meia sofrida), essa que nem sei explicar.
Pois mal, uns tantos que desviam a atenção em soslaio ou piedade, vêm-me transpirada e dessentida, será por calafrio, será pelo que corre nas veias, meio frio, meio fervoroso, desejado de sair para alívio ardente do motor sangrento que corre tórpido. Pois é certeza de quem não a tem que asserto, não muito bem recordada (será resultado de trauma etéreo) no caminho de sentir, que os quantos que me vêm a passar vagada, dizem que ameaço suspirado, de testa crespa, olhos pesados e de cabeça rebaixada, o peso da alma a cada respiro Cruento.

segunda-feira, 23 de março de 2009

11. 03. 2009


Não passava muito da uma e vinte e duas da tarde, mais concreta manhã de um sol que arde meio frio, pelo menos na minha face meia atordoada de pouco sentimento. Passava sim deveras pouco da hora em que muitos já tinham partido, rumo de costas ao mundo, e tu certamente já tinhas, como qualquer pessoa que se ameaça intitular normal, partido também. Passaste por mim, ou passei eu bem por ti, não muito mal recordada, mas passaste-o sempre assaz indiferente; seria desdita incerteza de uma carta que te escrevi em alentos nipónicos, essa que me desfocava do mundo bem aéreo e imparável. Certo será, ou assertado certíssimo sim, no mesmo percurso que os meus pés já fazem sem ordem minha e muito menos noção, mas por vício sabido, passo sempre implacável por esta ponte; será meia artificial, será meia simbólica (ou de água indiferente), não o creio bem. E pela ponte (qual delas à escolha) parei desta vez; foram já as tentações de lhe virar a página muitas, e concretos, poucos os reais pecados de dar o salto. Porém se foi dito que te escrevi uma carta, nessa que já ninguém sabe, li último pela decisiva vez, tudo o que tu és. Hipnotizada do marulho brilhante do sol no rio agora estelante, verti mudo do mundo pouco ou muito importada, suspiros de quem quer um final; não muito sentido, ou deveras não muito afligido, qual fim deles seja o mais opulento e menos dorido. Pouco aquém deste êxtase provocado à luz do Cruento, e não muito menos de tanta simbologia trazida ou inventada também, rasguei as palavras mais sérias que te escondi; em quantos pedaços vinquei cortada a tua carta crespa (ou a que quis de ti feita), para desculpa ou descargo do peso da minha alma que me pesa a cabeça e o siso. Rompi rapidamente e espreitei último, as palavras já meias distorcidas, talvez em espera de que me viesses perguntar por elas ou em espera de poder espirar melhor, amachuquei-as por fim. Quão forte ou lacerada, ou simplesmente demente e pouco espalmada, rezei por entre as mãos (ou no acto de rezar para quem teima acreditar) as pétalas de palavras sadias num silêncio de uma despedida que não era sabida. Estiquei as mãos em braços teimados e fraquejados, não certamente pelo peso de uma folha só massiva, e atirei-a no fervor agora sentido do esquecimento lúcido; franzi os olhos da minha alma ainda pesada (não a consegui apaziguar) e fingi que acreditei em tal triste ironia que me iria curar.

quarta-feira, 18 de março de 2009


De tantas mãos contadas que levei hirtas à testa por ti, quando te encontro sem te procurar, esfrego os olhos e seco o nariz por almejar quedar-te num silêncio mudo. Pois nós, este tu e eu que simplesmente não existe, seremos, vespertinos, as lugubridades da manhã. E por me deixar respirar mais rápido, vivo num alento despercebido, mas são as horas como estas, em que se suspira frio que me relembro que nada, axiomático, irá ciciar alguma vez; e o tempo que se passeia sem se volver, tornará poeira este intervalo de mágoa fabulada, de ilusão mísera mas sagaz. No fim, ermo eu, resta-me admitir que, destinado tu, serás o livro que abro para escrever com desalento, sem querer nunca virar a página, olvidar.

terça-feira, 17 de março de 2009


Não têm de brilhar as chovidas calçadas pelas caminhadas ruas para que o sol de meio-dia seja fulgor e pensante. Nem a tua figura hirta, nem a minha bem desleixada. Não, não passamos mais do que jogos de reflexos e olhares espelhados, perdidos por passos e vidros, de lado a lado ou frente e espelho. Meras sombras que se perderão certamente por aqui e ali, nas tuas só silenciosas passadas.
Caminhemos somente, não haja nada mais como assim deverá ser sempre, caminhemos então, porque eu falo só para mim. Não me ouves nem sabes que sou, nem tens que ouvir nem ser, só ires caminhando por ti...