sábado, 10 de outubro de 2009


...os pequnos zumbidores que picavam, picavam sempre, sem parar.
-Pronto. - murmurei, enquanto procurava equilibrar-me sobre o pedaço ridículo de terra seca. Certamente que ele não estava à espera que eu saltasse dali para além? Era muito longe; não era justo. Eu não podia saltar aquilo. Se, ao menos deixasse de chorar; se parasse... Olhei, com atenção, para a frente, à luz cada vez mais fraca. No outro lado daquela vasta extensão de lama negra, ele parara de andar. Estava muito quieto e pressenti que tinha os olhos fechados. Estava a dizer qualquer coisa, mas eu não lhe conseguia ouvir as palavras. Era demasiado longe. Aterraria na lama a meio caminho, o pântano engolir-me-ia e estaria tudo terminado. A minha garganta estava seca, o meu corpo encharcado de suor. A minha cabeça latejava. Não consigo... não consigo. Então ele falou de novo e eu ouvi-o.
-Ainda estás aí?
-Estou aqui. Mas acho que não consigo...
-Preciso de ajuda. Mãos. Não consigo segurar.
Ele não podia deixá-lo cair. Não podia. Certamente que não tínhamos chegado tão longe para nada.
-Estou a chegar - disse eu e saltei, forçando o meu corpo a atravessar aquele espaço impossível. Aterrei ligeiramente antes da ilhota seca onde ele estava, os meus pés afundando-se na lama mole, o meu corpo estatelando-se para a frente no solo coberto de erva. Agarrei-me desesperadamente à folhagem, enquanto sentia as garras vorazes da lama em redor das pernas, puxando-me. Soluçava, contando a pequena história angustiada, como o mundo ficara subitamente diferente e como queria que ele o tornasse melhor, agora, já, por favor. O meu rosto contraiu-se de esforço enquanto as minhas mãos agarraram e despedaçaram as folhas molhadas e então, com um som decididamente desagradável, a lama possessiva largou-me. Esbracejei, afastei-me da margem e pus-me de pé diante dele. A luz quase desaparecera; mal via o rosto que estava à minha frente.