quarta-feira, 17 de junho de 2009




Estou, decreto com todo o vigor pouco que me resta, harta, farta de isto tudo! Deste lugar que criei aqui, os meus desabafos árduos que não consigo ler sem expirar suspiros em desalento. Este livro aberto que deixei aqui, perdido que encontro poucas vezes é, e não digo isto tão dispensada de pensamentos, algo que não me deixa feliz. Fulminam-me, os outros e vocês, perguntas à queima-roupa de quando é que deixarei de viver incrivelmente atormentada, quando é que vou embarcar nos auto-intitulados de normais. Pois mal, é inevitável a aqueles que perfazem o meu círculo diário saberem que penso pouco; de mais, será natural que tudo o que faça seja somente pensar, absorta de muito e todos, encolerizada; uma má equação de, avançam eles, não ser equilibrada. Correctíssimo seria dizer que me fazem feita de algo que não sou afeita, correctíssimo sim, mas então de que me serve não poder usufruir dessa fama? Os olhares atrozes dos de mais perto e, pior muito, dos que se distanciam longe, sem qualquer relevância a mim fazem-me somente pensar. Que poderei eu, esta aversão que não consegue ser o que pensa, fazer sobre os outros? De mais, sobre ti! Sim, tu, essa sombra de chuva que cheira a vazio; sim, hoje olhei-te nos olhos e tu simplesmente desviaste-mos, que mais posso fazer se não pensar? Dizem, anunciam, proferem que penso demasiado sobre a vida, mas como posso eu não pensar se a vida só me dá para pensar; os pequenos trechos diários que deveriam ser a gula de felicidade são torpes. O meu mal, teimo eu, é que, repetem vocês, acostumei-me a algo de mim, que pensei superar, mas afinal é só a fachada, porque a súmula má, a essência podre continua lá, e os olhares de soslaio continuam cá. Sabem, somente porque faço muita questão de deixar isto aqui prescrito, porque razão é que deixei este livro aberto a todos, como um livro de uma biblioteca à consulta livre de quem quiser e interpretar? Claro que não sabem. O que mais instigo fazer de mim é mirar, observar, atentar na vida, nos outros – e pouco me preocupo com a vossa má interpretação disto, estou, e repito, farta! –, respirar os pequenos gestos dos outros, as cadeias inter-sociais que tantas vezes te levam a ti! – e a frivolidade da sempre tua ignorância –, os pequenos actos de carinho, vícios e valores. É dado a isso que, apesar de não gostar que me olhem com, ou sem tento, deixo este livro aberto, porque talvez haverá alguém – e nuns sonhos afrontados, tu – veja isto, me tente interpretar como eu ferro a tal nos outros. No fim, sim, o fim que quero tornar claro! Pois ameaço com certeza casta que este será a última entrada do ninguém que fui!; poeira que fui e deixei aqui, que, aqueles que me souberam, estão enterrados já jazidos.Quando, enfim, digo estou farta é porque não vivo a fama que me dizem acusada; se a viver, serei irritada, ou, novamente, a má mistura que sou sempre. Mas, e digo isto à deriva – quase em prol – de todos os meus verdadeiros medos que quero desistir, que me deixem em paz se não querem nada platónico de mim, afinal, sou só um pensamento, grande e feito, atroz, destinado a um sobejo olvidado.E se pudesse, assegurem que se me deixasse, mandava-vos a todos para um sítio especial, e a ti especialmente, tal como eu hoje fui no teu olhar.