quinta-feira, 23 de julho de 2009

+19 +1 -1 ?


Seria de mau passar por ti e sentir que nada se passou, o que, sem efeito algum, passou, mas tu confinado estiveste a um espaço que algumas pessoas chamam de mente – espaço infindável, no entanto.

Mas a verdade é que não seria mau de todo, sempre, passar por ti, e saber-te o que realmente eu sinto, que não é nada – saberás tu nunca –, se não mais que um sorriso sentido por mim, omitido no meu platonismo em segredo de quase todos e de especialmente de ti. O facto de ter sido deixada no crepúsculo, não por vontade tua, nem cobardia minha, ajudou-me a apoiar nos meus próprio pés – os meus fundamentos –, algo que não muitas vezes consegui. Passar por ti e sorrir-te, deixar-te-ia numa situação complicada, sem nada mais a pensar que eu seria um monstro mutável; passar por ti e sorrir-te e agradecer-te seria, da tua parte, ainda menos compreensível, dirias, até, tenho a certeza, que seria um néscio – que é, com efeito, o que eu, ou qualquer outra pessoa consideraria, talvez; alguém passar por mim e agradecer-me enquanto, a mim, essa pessoa fora fantasma ou figurante.

Talvez, sim, não me teres visto a sair da penumbra, da tua sombra que vi, que vira tantas vezes no rosto, essas trevas – feições – que conheci tão melhor que muitos e poucos, foi-te dissentindo e a mim, axiomática; uma apatia inerte aos teus sentidos mudos, aos meus passos largos. Seria por isto que te sorrio, com uma doce reminiscência a nada; não porque não te fui o ninguém que fui, mas porque apesar de ter caminhado a teu lado – o teu reflexo –, fiquei sempre na sombra dos meus sentimentos, os que não te soube sentir, dizer, e os que não soubeste existir – os teus dissentimentos.

Hoje, e sempre que poder, sorrir-te-ei, agradecer-te-ei com um sorriso honesto – o sorriso que nunca verás –, não porque já não quero nada, o nada que já não tenho, mas porque sim, representaste em mim, sem nunca saberes e sentires, o direito que tive de andar na tua sombra brilhante, sempre na tua penumbra, não na tua tão ignorância, mas no teu silêncio – o que amei verdadeiramente, a única coisa que realmente tivemos –, um sentimento que nunca soubeste, nem que eu existi.

sexta-feira, 17 de julho de 2009


Eu não acredito no destino, por razões pessoais e por razões simples; dizem que o destino traz as pessoas, então porque as leva de nós? Ver um amigo ou um amante, um amor a ir-se embora para nunca mais voltar – sem nem sequer querer entrar nas questões da vida e morte; os sentimentos que nunca foram ditos, nem muitas vezes sentidos. Não, recuso-me a aceitar tal barbaridade; nós construímos o que nos rodeia; as pessoas que nos rodeiam, por vezes somos fracos, ficamos no silêncio sem ser capazes de pedir socorro, ‘fica comigo’, ou simplesmente ‘preciso de ti’. Tomamo-las como garantidas, mas eu sou demasiado fraca para balbuciar essas palavras; eu preciso das pessoas, mas preciso ainda mais que precisem de mim, útil nos sentimentos. Eu sei que no fim de tudo, qualquer frase, olhar é um ardor. Eu não quero que ninguém me deixe, ninguém; mas não consigo sentir se não houver algo recíproco, natural, culminado.
"time ain't gonna cure you; time don't give a shit. six kinds of glue won't hold me"

domingo, 12 de julho de 2009


Cheira a sangue. Cheiro nefasto de carne morta, jazida em poça escarlate, brilhante e viscosa, chorada de lágrimas sangrentas, essas que disturbam o zumbido das moscas que esvoaçam por entre tanto festim à Morte ainda fresca. Cheira a morto, odor de carcaça já arquejada por necrófagos a uma refeição sem dignidade, cheira pois deles pouco importam, se não mais indigno fora quem morreu. Eu cheiro a sangue, não desse que pulsa vivo nas veias de uns sortudos, mas sim esse que se derrama despreocupado pelo chão de lama cruenta em sol caliginoso. Cheiro de massacre; ditas horas em fragrâncias sujas de sangue, de aroma infectado dos sentidos nasais como ódio à sanidade, em tremor à luz caliginosa. É de trevas dissentidas este funesto horror, este que traz da carcaça gélida arrepios à pele, ou por medos afligidos aos olhos atónitos de quem ousa fitar o esqueleto corpóreo de alma pestífera. Afiz-me a este cheiro moribundo, este que agora é terra certa, que resta em ouvidos da Morte afeita; esta nova situação, meia concreta agora dita ou desdita fora, ou teria sido o almejo a uma ilusão contrária, sobejo de alento fingido meu.


"time ain't gonna cure you; time don't give a shit. Six kinds of glue won't hold me"

sexta-feira, 3 de julho de 2009


Aprendi a respirar a Morte; certeza minha, em cada vez mais dias passados esta minha dor, esta que cresce insuportável, e de certo mais indescritível. Cada dia que nasce sempre mais caliginoso que ou outro passado, será falta de forças para manter as pálpebras em estado, serão trevas imanentes vincadas à alma bolorenta, é uma escadaria cronometrada, um passeio infernal até ao momento fatal. Das poucas vezes, certamente que serão poucas as vezes que realmente abro os olhos, e das poucas vezes também em que me deixo deambular pela minha busca do infinito, a hora da minha morte é sempre implacável – ferrar metálico das oito e cinquenta e cinco da manhã. Leito macabro ao rumo do meu suicídio ressuscitado, desorientar-me do meu infinito infectado por desejos de fugas cruentas, é ver-te e deveras mortal. Os extremos emotivos, esses que só remam no meu sangue mesmo que à deriva, trazem-me ressuscitada à vida apenas por um alento. A máxima de regozijo é certamente sobreposta (ou simplesmente clarificada) ao almejo da jocosa Morte sorrida. O escarlate que me trazes a pulsar de novo é um tumulto de um segundo caminhante; irrompido e colérico pelo apunhalar que me fazes sentimental, anestesiada e capaz de me organizar num triz, devolves-me à dor a que me afiz. Ver-te é voltar à vida, da certeza incerta de algo que nem sei se creio concreto, suspiro para descanso de algo que não sei descansar; os dias que se arrastam cada vez mais penosos pelo sangue que me foge dorido pelas entranhas aturdidas acrescem à minha dificuldade de respirar. Olhar-te perdida do meu fitar infinito, significa expirar a Morte que só me deixas nos meus tristes desejos; significa voltar à vida da causa desdita que cresce mais pregada à minha alma quebrada, assim acomodada ao ar que respiro venenoso; bafo apodrecido de alma fraquejada que eu morro todos os dias, apunhalado pela tua ilusão crespa. No fim, de uma forma muito trocista, a Morte devolve-me o coração condescendentemente, cada vez sempre mais desfalecido de dor, a minha dor que cresce insuportável, só para me ver a morrer no novo dia que surge mais atro que hoje.
"time ain't gonna cure you; time don't give a shit"