Seria de mau passar por ti e sentir que nada se passou, o que, sem efeito algum, passou, mas tu confinado estiveste a um espaço que algumas pessoas chamam de mente – espaço infindável, no entanto.
Mas a verdade é que não seria mau de todo, sempre, passar por ti, e saber-te o que realmente eu sinto, que não é nada – saberás tu nunca –, se não mais que um sorriso sentido por mim, omitido no meu platonismo em segredo de quase todos e de especialmente de ti. O facto de ter sido deixada no crepúsculo, não por vontade tua, nem cobardia minha, ajudou-me a apoiar nos meus próprio pés – os meus fundamentos –, algo que não muitas vezes consegui. Passar por ti e sorrir-te, deixar-te-ia numa situação complicada, sem nada mais a pensar que eu seria um monstro mutável; passar por ti e sorrir-te e agradecer-te seria, da tua parte, ainda menos compreensível, dirias, até, tenho a certeza, que seria um néscio – que é, com efeito, o que eu, ou qualquer outra pessoa consideraria, talvez; alguém passar por mim e agradecer-me enquanto, a mim, essa pessoa fora fantasma ou figurante.
Talvez, sim, não me teres visto a sair da penumbra, da tua sombra que vi, que vira tantas vezes no rosto, essas trevas – feições – que conheci tão melhor que muitos e poucos, foi-te dissentindo e a mim, axiomática; uma apatia inerte aos teus sentidos mudos, aos meus passos largos. Seria por isto que te sorrio, com uma doce reminiscência a nada; não porque não te fui o ninguém que fui, mas porque apesar de ter caminhado a teu lado – o teu reflexo –, fiquei sempre na sombra dos meus sentimentos, os que não te soube sentir, dizer, e os que não soubeste existir – os teus dissentimentos.
Hoje, e sempre que poder, sorrir-te-ei, agradecer-te-ei com um sorriso honesto – o sorriso que nunca verás –, não porque já não quero nada, o nada que já não tenho, mas porque sim, representaste em mim, sem nunca saberes e sentires, o direito que tive de andar na tua sombra brilhante, sempre na tua penumbra, não na tua tão ignorância, mas no teu silêncio – o que amei verdadeiramente, a única coisa que realmente tivemos –, um sentimento que nunca soubeste, nem que eu existi.